mércores, 26 de agosto de 2020

Okupa, ... Por Ramiro Vidal Alvarinho



Por Ramiro Vidal Alvarinho [*]
26.08.2020


Parece que há bastante pessoal que tem uma confusão importante com o tema da ocupação de imóveis públicos ou privados, a raíz sobre tudo, da equívoca utilização do termo "okupa" a nível midiático para se referir a toda aquela pessoa ou grupo de pessoas que entram e se aprópriam de vivendas ou outro tipo de locais dos que não são proprietários. Vamos ver, "okupa" começou a utilizar-se no mundo de fala hispana para referir-se ao movimento squatter, um movimento sócio-político que reivindica o direito a habitação digna e também o direito do povo, nomeadamente da juventude a dispôr de locais para fazer atividades culturais, de índole política, celebrar assembleias, concertos... é um movimento de orientação maioritariamente libertária. Pelo geral uma coisa de bê a bá do movimento okupa é saber o quê se ocupa; se uma antiga finca propriedade de uma família pudente que agora caiu nas mãos de um banco, ou se é propriedade de alguém que está fora do país e nem se preocupa dessa propriedade, se é um prêdio em estado semi-ruinoso que está em poder de uma imobiliária e que estão deixando cair para constroir de novo, etc. Casos práticos: a Casa das Atochas era propriedade de uma imobiliária e a ocupa de Palavea era propriedade naquele momento de um banco. Às vezes dá-se o caso de que os prédios são propriedade pública em desuso: a Ocupa da Ria era um antigo paço que, nos seus últimos anos de história, pertenceu à Câmara Municipal de Oleiros e, por exemplo, A Insumisa, como tod@s saberemos, pertencia no momento no que se ocuparam aquelas instalações, ao Ministério espanhol da Defesa, ainda que numa última etapa, se não lembro mal, passara já a titulariedade municipal. Não é habitual que o movimento okupa procure problemas com particulares e desde logo o que não se faz é ocupar imóveis habitados. Antes de ocupar há um seguimento de qual é a situação do imóvel.

Questão à parte são as famílias que estão excluídas do mercado da vivenda, que foram nalgum momento expulsas do lugar onde moravam por não poder pagar o aluguer ou a hipoteca, ou pessoas sozinhas que não têm possibilidade de procurar de outra forma um lugar onde morar. O desespero da situação (e às vezes não saber como fazê-lo) são factores que dão lugar a que esta gente não saiba, no momento de entrar num apartamento, num chalé, etc, onde é que se mete.

Não tudo faz parte do mesmo ainda que responde a necessidades parecidas quando não idênticas. Mas o movimento organizado não age para tirar-lhe a casa a ninguém. Quanto ao fenômeno não organizado, ao melhor o que havia era erradicar os motivos que levam a adoptar esse comportamento.

[*] Ramiro Vidal Alvarinho (Ferrol, 1973). | facebook | Foi membro "Ocupa da Ria", centro social ocupado e autogestionado, localizado no concelho de Oleiros, no Caminho do Jabrom s/n, Perilho.

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